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Há uma equipa de biólogos jovens, dedicados afincadamente à renaturalização do Vale do Rio Côa, que pretende reforçar um corredor de 120.000 hectares para a vida selvagem.
Nas margens do Grande Vale do Côa, no nordeste do país, as densas florestas foram desaparecendo e sendo trocadas por olivais e pastos para ovelhas. Nas últimas décadas também os agricultores abandonaram estas terras, o que não significa que existam mais condições de atração para a vida selvagem. É imperativo um refortalecimento da região para criar um novo espaço, capaz de reunir animais selvagens e um território mais saudável para todos.
Após um movimento civil para deter a construção de uma barragem no início dos anos 90, foi criado o Parque Natural do Vale do Côa, reconhecido Património Mundial da UNESCO e considerado o mais importante sítio com arte rupestre paleolítica de ar livre. O Grande Vale do Côa está ecologicamente ligado a áreas selvagens semelhantes noutras partes da Península Ibérica, através da rede Natura 2000. É nesta região que testemunhamos como uma organização não-governamental – a Rewilding Portugal - está a renaturalizar os ecossistemas, lutando para fomentar a migração dos animais selvagens de volta a estas terras.
A região do Grande Vale do Côa é um importante corredor de vida selvagem para muitas espécies da região e o reforço desse corredor poderá desempenhar um papel importante na recuperação de espécies raras, como a cegonha-preta e o lobo ibérico.
A Rewilding Portugal é uma organização privada sem fins lucrativos, estabelecida em janeiro de 2019 na Guarda, cuja missão é promover a conservação da natureza por meio de medidas de rewilding em Portugal.
A Rewilding Portugal é o principal parceiro da Rewilding Europe na área de rewilding do Grande Vale do Côa e está a trabalhar em estreita colaboração com a Rewilding Europe para alcançar o objectivo comum de tornar Portugal um lugar mais selvagem.
O processo de rewilding, ou renaturalização, é uma abordagem inovadora e pragmática de conservação da natureza. Trata-se de permitir que a natureza cuide de si mesma, dando espaço a que os processos naturais moldem a terra e o mar, reparem os ecossistemas danificados e restaurem paisagens degradadas. Desta forma, os ritmos naturais da vida selvagem criam habitats mais selvagens e mais biodiversos. Esta estratégia natural reconhece a necessidade de criar espaços onde tanto a natureza como as pessoas possam prosperar e viver em harmonia, promovendo economias locais mais sustentáveis em que o património natural potencia o desenvolvimento das economias rurais.
Pedro Prata, biólogo da conservação e diretor da ONG portuguesa, regressou à zona onde cresceu para lutar pela restauração deste habitat. Após ter estudado e trabalhado na Holanda, no Brasil e nos EUA, é um dos poucos membros da sua família que regressou às origens. Pretende implementar uma estratégia de rewilding para trazer de volta a vida selvagem e rejuvenescer a população habitante. Aos seus olhos, a renaturalização não deve ser sinónimo de isolamento. Deve incluir a população tanto quanto possível, reforçando também a conexão da população à natureza. Tudo deve ser pensado como um ecossistema, aumentando a consciencialização sobre a conservação da natureza e melhorando a situação socioeconómica das comunidades locais.
A organização visa construir uma economia baseada na natureza e na cultura para criar apoio comunitário a um ambiente mais selvagem, em que os processos naturais e a vida selvagem modelam a paisagem. Do rio Douro, no norte, até às montanhas da Malcata, no sul, a ONG pretende aumentar a área de terra sob restauração e reduzir as principais ameaças a habitats e espécies.
Outro dos problemas da região são as vastas culturas de Eucalipto e os incêndios que se vão alastrando e regressando a uma frequência que não permite que a floresta recupere. A equipa de vigilância da Rewilding Portugal percorre milhares de quilómetros, geralmente de mota, para detetar e denunciar crimes ambientais, como armadilhas ou envenenamentos de animais selvagens. Fazem também parte do esforço nacional para detetar incêndios florestais rurais.
Esta estratégia começa a dar frutos. O Vale do Côa está a ser reabitado aos poucos e a tornar-se num lugar mais selvagem. Há uma nova colónia reprodutora de abutre preto confirmada recentemente na Reserva Natural da Serra da Malcata e também o lobo ibérico, o veado-vermelho e o corço continuam a expandir a sua área de distribuição.
O COA - Corredor das Artes é outra novidade da região, um evento bianual local que pretende trazer um novo modelo de arte e cultura para a região, promovendo a sua identidade natural e cultural como destino de viagem e dando oportunidade a empresas locais de apresentarem os seus produtos.
Recentemente, a Rewilding Portugal, que também desenvolve atividades em Cinfães e Resende, anunciou os vencedores do concurso de fotografia de Natureza “Rewilding Photo Contest”. Este concurso, que vai na segunda edição, tem como principal objetivo “promover o património natural português e a sua respetiva valorização e proteção, através da fotografia de natureza como meio de dar a conhecer à comunidade os magníficos ecossistemas e respetivas espécies de fauna e flora selvagem” do país.
Na visão desta equipa, é a libertação da terra e não o seu abandono, que nutre a vida natural. Oxalá as novas gerações possam observar esta paisagem e ver florestas envelhecidas, sem as interrupções dos fogos florestais. Quem sabe, um dia, até avistar matilhas de lobos a caçar e linces ibéricos a calcorrear os solos férteis.
A natureza é primorosa e tem capacidade de se regenerar se lhe dermos tempo e liberdade para isso.